segunda-feira, 5 de outubro de 2009




O TEMPO

Reginaldo Bessa

O tempo não é, minha amiga
Aquilo que você pensou
As festas, as fotos antigas
As coisas que você guardou

Os trastes, os móveis, as tranças
Os vinhos, os velhos cristais
As doces canções de crianças
Lembranças, lembranças demais

Você vem deitar no meu ombro
Querendo de novo ficar
Eu olho e até me assombro
Como pode este tempo passar

O tempo é areia que escapa
Até entre os dedos do amor
Depois, é o vazio, é o nada
É areia que o vento levou

O medo correndo nas veias
Deixou tanta vida pra trás
E a gente ficou de mãos cheias
Com coisas que não valem mais

E fica um gosto de usado
Naquilo que nem se provou
A gente dormiu acordado
E o tempo depressa passou

O tempo não pára no porto
Não apita na curva
Não espera ninguém



"Escrevo ou não escrevo? (...)Tenho medo de escrever.
É tão perigoso. Quem tentou, sabe. Perigo de mexer no que está oculto - e o mundo não está à tona, está oculto em suas raízes submersas em profundidades de mar (...)Escrever existe por si mesmo? Não. É apenas o reflexo de uma coisa que pergunta. Eu trabalho com o inesperado. Escrevo como escrevo sem saber como e por quê - é por fatalidade de voz. O meu timbre sou eu. Escrever é uma indagação. É assim:?"
Clarice Lispector







Eu te amo
Composição: Tom Jobim / Chico Buarque


Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
Ah, se ao te conhecer
Dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir
Se nós nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir
Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu
Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu
Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios ainda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair
Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir.


"Abandone-se, tente tudo suavemente, não se esforce por conseguir - esqueça completamente o que aconteceu e tudo voltará com naturalidade."
Clarice lispector - Laços de família

sexta-feira, 24 de julho de 2009



"Vejo muitas pessoas que não estão dando certo...Vejo muitas pessoas se desprenderem de suas verdadeiras essências...Vejo muitas pessoas cultivando verdadeiros e grandiosos jardins de infelicidades. Pessoas que morrem sem chegarem à terra prometida. Não gostaria que fosse assim.Fiquei sabendo que na China há um rio chamado Rio Amarelo que morre antes de chegar ao mar...Fiquei pensando que há pessoas que insistem em fazer o mesmo. Não permita que sua história seja semelhante à desse rio...Lute para chegar, lute para alcançar...Já dizia o poeta catarinense, Lindolfo Bel: "Menor que meu sonho não posso ser!".Assim seja...Assim façamos".
Pe. Fábio de Melo

terça-feira, 21 de julho de 2009



Eu não sei se a vida é que vai rápida demais ou se sou eu que estou mais lento. O que sei é que ando me atropelando nos próprios passos. Eu resolvi desacelerar. Eu vou no rítmo que posso. Não é fácil. É sabedoria que requer aprendizado! Eu quero aprender.O descompasso é a causa de todo cansaço. O corpo é rápido, mas o coração não. O corpo anda no compasso da agenda. O coração anda é no compasso do amor miúdo. O corpo sobrevive de andares largos. O coração sobrevive de pequenos passos e de demoras. Eu já fui e voltei a inúmeros lugares e o coração nem saiu do lugar.O mistério é saber reconciliar as partes. Conciliar um ritmo que seja bom para os dois. Eu quero aprender. Não quero o martírio antes da hora. Quero é o direito de saborear o tempo como se fosse um menino que perdeu a pressa. (...).Chega de vida complicada. Eu preciso é de simplicidade!

Pe Fábio De Melo
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sexta-feira, 17 de julho de 2009

Irremediavelmente

deviantart.com
Tinha verdadeira paixão por janelas. Era um mundo de possibilidades e lembranças. Rabiscava com os dedos, metáforas de uma vida sonhada. E em dias assim, dobrava os cotovelos e lambuzava-se de memórias. Percebia que a razão vacilava. Não se importava, pois os descaminhos se tornavam ternuras. A memória flamejava nos olhos e ria um riso que despetalava o infinito que nela morava. Tentava em vão encontrar a paz. Estava irremediavelmente presa. E por isso, fazia suas preces.
Débora
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Aninha e suas pedras

Não te deixes destruir...
Ajuntando novas pedras e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces.
Recomeça.
Faz de tua vida mesquinhaum poema.
E viverás no coração dos jovense na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginase não entraves seu usoaos que têm sede.

Cora Coralina (Outubro, 1981)


CARTA DE DRUMMOND A CORA CORALINARio de Janeiro, 7 de outubro de 1983.Minha querida amiga Cora Coralina: Seu "VINTÉM DE COBRE" é, para mim, moeda de ouro, e de um ouro que não sofre as oscilações do mercado. É poesia das mais diretas e comunicativas que já tenho lido e amado. Que riqueza de experiência humana, que sensibilidade especial e que lirismo identificado com as fontes da vida! Aninha hoje não nos pertence. É patrimônio de nós todos, que nascemos no Brasil e amamos a poesia ( ...). Não lhe escrevi antes, agradecendo a dádiva, porque andei malacafento e me submeti a uma cirurgia. Mas agora, já recuperado, estou em condições de dizer, com alegria justa: Obrigado , minha amiga! Obrigado, também, pelas lindas, tocantes palavras que escreveu para mim e que guardarei na memória do coração.O beijo e o carinho do seuDrummond.

Extarído de Textos e Contextos

Simplicidade

"Que ninguém se engane,
só se consegue a simplicidade através de muito trabalho".
(Clarice Lispector)